Cerveja atrás de cerveja Garrafas que empilho não se movem sozinhas Bebo porque é líquido e trago porque não sei quem vem Sou das tardezinhas e dos lamentos Da simpatia com quem se apresenta Dos versos cada vez mais soltos Porque no céu o que há é mato E os coelhos estão todos aqui a fornicar Eu vos digo que querer o desejado É desejar o querer E os quereres estão obsoletos Porque se assim não fosse Araçatuba seria a nova Paris E as guerras seriam coisa pra depois Só que isso diz quem é bebum, niilista ou depravado E eu sou logo os três E mordo e assopro e cuspo E se deixarem eu assovio Pra dizer que três é demais Dois é veneno E um Só um Um só Um filho da puta é o que basta pra coisa desandar.
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Amanda e um copo d’água

Não posso esconder tosse ou amor Que me desatina Quero Como querem os mais sábios Sem posse É tarde quando a encontro Mas non troppo Pois crianças não dormem Emprestam o nome à noite E meneiam à exaustão Entre vapores e goles Fricções e barulhos Incontidos Ela me engole E eu lhe mastigo Vantagens íntimas Hesitações Somos bichos da revolução Injuriados, subversivos Do pecado bons amigos No prestígio há comédia Uma antologia divina Na carne fecunda Na dama que dá sede Na virtude que abunda Amante de um momento breve Nostalgia de um leve instante Desejo com esmero Desmaio Ante a distância que é obstante Sei mais do que vejo E peço mais do que posso Me encanta por ser livre A dourada amante do ócio Na cama digo que é dia No poema juro que é chuva Falo, lhe encaixo, repito Por escrito confessa quem ama.
Perfume, mel e outros desejos
Sou feito de luxúria e dor Sem pudor tu és a linda vivente do anoitecer Flor virginal, efêmera de torpor úmido que esvai Se alimenta do que atrai E saciada vem a fenecer Há um ponto cardeal na carne tua e o tempo, como os lábios teus, é pequeno e casual Mas grande é a sede do marujo entorpecido Cujo norte se guia à conquista crua Das águas que enfrenta a nau A saber Se o preço é a insânia e o perigo apetecer Rio e me endivido Quando no poente me aqueço A querer-te como deve o querer Calo tua fala com o falo E por prazer te faço ouvida Ao gemido de um oral abalo Embebido em fluido denso E embalado pela coisa arisca Intenso como um descuido Devorar-te o orvalho É o que anseio por toda a vida.
São Carlos, 10 de julho de 2010
Bula

Ao homem nascente, em meu nome, que lhe seja recomendado
Antes de tudo que a vida trama
Mas que não há o certo, tampouco o errado.
A família, a tenha por princípio
e a escola para o aprendizado
porém aos amores cuidado, são um perigo!
Haverá quem o ame por seus adjetivos
e quem o faça somente pelos seus predicados.
Que valorize, em tempo, os dias santos entre os de trabalho pois graças a igreja gozará
o seu descanso sempre aos feriados.
Mas se lhe falte a família
ou a escola não o deixe encantado
e se as mulheres não o quiserem por marido
ou para Deus você não reserve o sábado
não esqueça do começo
pois tentarão provar o contrário
e será sua meta ante o destino
provar que não reina a escuridão, tampouco tudo é claro.
Haverá só você, no fim de tudo
tão tranqüilo, mas desesperado.
Convicto que viveu certo, na dúvida se fez errado.
A paz, o pacto, o ato ineficaz

Não fui o primeiro a ousar o acordo e o mundo Esse mundo doente do homem que mente Ainda há de gerar muito tormento Para que outro iníquo assobie o trítono E da matéria incendiada a fumaça dê a forma O cheiro e a desesperança Da estrela príncipe da manhã. Poder, êxito e dominância Oh, serpente, eu invoco a tua presença De valores invertidos E virtudes controversas Com a voz da minha ganância. O diabo apareceu Porque o diabo é diferente do irmão Que tudo ouve e nada diz. Não é vermelho e dos olhos não salta facho Não veste capa nem coisa alguma Caminha de couro despido E não nos dá as costas. Anhanguera oferta ouro mas também esconde o rabo. Satanás é exibido e entre as pernas mostra o sexo Posto que sem nexo e muito rígido Aponta para baixo. Não exala enxofre como se quis E embora nu, o cão veste sapatos Pois tem pés imaculados. Mamãe me disse que quando em face de um dilema Eu me furtasse a frieza e fosse só humano Demasiado humano. Que não me ardesse em indiferença. Ora, essa é a fantasia do tinhoso, que sejamos mais crus e Que andemos, como ele, todos nus! Em troca de favores ofereci a alma Mas esqueci de maldita saliência que define o coisa ruim Não se atém à boa vontade E ama o enfado das escrituras Que condena homens em verdade Às clausuras eternas De temas do pecado. No semblante daquele bicho um prazer desgraçado emanava dissabores Tão claros como discretos e simples e complexos sobre o rosto enrugado. Sorri e fica sério Diz que sim mas não convence Faz mistério. Faz assim. É a sombra do adultério. É o vício que sempre vence e a inconsequência que o antecede. É o querer e o desamor e a delinquência e a harmonia. É a nota aguda. É sob as roupas o calor. É a fantasia. É a recusa de ajuda. É a autofagia. É ele, somos nós, quem sois vós? Antropofagia! Ator do ato trágico. Da carne à carne Um mágico! Um profeta! Um renegado! Diferente dEle, o mofento é sarcasmo e ironia. Afina o bigode e aperta o laço. Cruza as pernas e aumenta a aposta. Mais sem ter menos, o tal venha a nós mas sem o vosso reino. Pé de cabra, sete peles, teu número é engraçado! Vi arcos se contorcerem e a luz se alterar e a terra chacoalhar E das ventas saltar vapor Quando acusei no maledetto a própria semelhança Das mudanças de humor. O vidro polido se rompeu E percebi em pedro-botelho O mais assustador e incensurável. A lembrança de tudo o que aprendi, de tudo o que se leu. No espelho reconheci o fardo incomensurável De que aquele sujeito era eu.
Flagelo

É por não poderes que me queres? Menina, toma fiel pela mão A indecência que te fere Com um pobre amor temporão. E quando envelheceres então Navega imprevisível ao vento Que te guia com paixão Ao meu couro sedento E nesta busca incrível Para que sejas minha Para que seja teu Estaremos juntos, para nunca mais Atrelados a um derradeiro cais Em epígrafe: Um homem, uma mulher – aqui jaz.
Gota a gota
Políticas públicas combatem a miséria
e fomentam o desenvolvimento
e amparam
o marginal.
Mas não há plano de governo
para a pobreza de espírito.
Carne de vaca e espírito de porco
e modos de cavalo e ronco de leão
e voz de maritaca e apetite de coelho
e medo de veado e olhos de coruja
e nariz de palhaço.
Gota a gota
expulsos do esgoto, somos ex
os esgotados.