Sou feito de luxúria e dor Sem pudor tu és a linda vivente do anoitecer Flor virginal, efêmera de torpor úmido que esvai Se alimenta do que atrai E saciada vem a fenecer Há um ponto cardeal na carne tua e o tempo, como os lábios teus, é pequeno e casual Mas grande é a sede do marujo entorpecido Cujo norte se guia à conquista crua Das águas que enfrenta a nau A saber Se o preço é a insânia e o perigo apetecer Rio e me endivido Quando no poente me aqueço A querer-te como deve o querer Calo tua fala com o falo E por prazer te faço ouvida Ao gemido de um oral abalo Embebido em fluido denso E embalado pela coisa arisca Intenso como um descuido Devorar-te o orvalho É o que anseio por toda a vida.
São Carlos, 10 de julho de 2010