
Não fui o primeiro a ousar o acordo e o mundo Esse mundo doente do homem que mente Ainda há de gerar muito tormento Para que outro iníquo assobie o trítono E da matéria incendiada a fumaça dê a forma O cheiro e a desesperança Da estrela príncipe da manhã. Poder, êxito e dominância Oh, serpente, eu invoco a tua presença De valores invertidos E virtudes controversas Com a voz da minha ganância. O diabo apareceu Porque o diabo é diferente do irmão Que tudo ouve e nada diz. Não é vermelho e dos olhos não salta facho Não veste capa nem coisa alguma Caminha de couro despido E não nos dá as costas. Anhanguera oferta ouro mas também esconde o rabo. Satanás é exibido e entre as pernas mostra o sexo Posto que sem nexo e muito rígido Aponta para baixo. Não exala enxofre como se quis E embora nu, o cão veste sapatos Pois tem pés imaculados. Mamãe me disse que quando em face de um dilema Eu me furtasse a frieza e fosse só humano Demasiado humano. Que não me ardesse em indiferença. Ora, essa é a fantasia do tinhoso, que sejamos mais crus e Que andemos, como ele, todos nus! Em troca de favores ofereci a alma Mas esqueci de maldita saliência que define o coisa ruim Não se atém à boa vontade E ama o enfado das escrituras Que condena homens em verdade Às clausuras eternas De temas do pecado. No semblante daquele bicho um prazer desgraçado emanava dissabores Tão claros como discretos e simples e complexos sobre o rosto enrugado. Sorri e fica sério Diz que sim mas não convence Faz mistério. Faz assim. É a sombra do adultério. É o vício que sempre vence e a inconsequência que o antecede. É o querer e o desamor e a delinquência e a harmonia. É a nota aguda. É sob as roupas o calor. É a fantasia. É a recusa de ajuda. É a autofagia. É ele, somos nós, quem sois vós? Antropofagia! Ator do ato trágico. Da carne à carne Um mágico! Um profeta! Um renegado! Diferente dEle, o mofento é sarcasmo e ironia. Afina o bigode e aperta o laço. Cruza as pernas e aumenta a aposta. Mais sem ter menos, o tal venha a nós mas sem o vosso reino. Pé de cabra, sete peles, teu número é engraçado! Vi arcos se contorcerem e a luz se alterar e a terra chacoalhar E das ventas saltar vapor Quando acusei no maledetto a própria semelhança Das mudanças de humor. O vidro polido se rompeu E percebi em pedro-botelho O mais assustador e incensurável. A lembrança de tudo o que aprendi, de tudo o que se leu. No espelho reconheci o fardo incomensurável De que aquele sujeito era eu.